O conteúdo a seguir foi baseado nos meus estudos durante o curso de Enfermagem pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e na minha observação ao longo dos quatro anos de carreira no mundo do piercing. Esses não são materiais oficiais, são apenas explicações que desenvolvi ao longo das aulas de microbiologia, imunologia, fisiologia e outras matérias cursadas que foram relevantes para meu entendimento sobre cicatrização, e acredito que podem ajudar no seu entendimento sobre o assunto. Desenvolvido por mim com base em materiais referenciados, não possui conflitos de interesses.
Sua pele possui uma barreira natural contra patógenos (como bactérias), chamada microbiota. Geralmente conhecemos a "flora" intestinal, porém a microbiota está presente em outros lugares do corpo, como estômago, olhos e, o mais importante no caso do piercing, na pele!
A microbiota residente é um conjunto de microrganismos que habitam permanentemente um local e depende de fatores como pH, umidade, nutrientes, entre outros. Ela possui diversas funções importantíssimas para nós, principalmente para nossa imunidade. A microbiota residente está constantemente sendo exposta a patógenos, o que ajuda a fortalecer o sistema imunológico. Outra função incrível é a proteção direta contra alguns patógenos. Isso porque os microrganismos naturais da pele competem com agentes externos por nutrientes, dificultando a colonização de microrganismos que possam vir a nos contaminar — como, por exemplo, aquela bactéria que estava na sua mão justamente quando você foi coçar seu piercing.
Outro papel importantíssimo da microbiota da pele é ajudar na inflamação do seu piercing. Isso mesmo: as bactérias "do bem" que habitam sua pele estão constantemente produzindo substâncias como bacteriocinas e defensinas. Além de serem antimicrobianas, essas substâncias também possuem ação anti-inflamatória.
Resumindo: o antisséptico não consegue distinguir quais bactérias são boas e quais são ruins. Ele elimina toda uma linha de defesa natural da sua própria pele. Já existem, inclusive, alguns documentos de enfermagem desencorajando o uso de antissépticos (como o PARECER COREN/SC Nº 018/CT/2015). O sabonete neutro e cuidados básicos para evitar contaminação já são suficientes para prevenir uma infecção bacteriana.
"Conforme disposto no item 5.17.1 do Anexo da RDC 67/2007, redação dada pela RDC 87/2008, somente os profissionais legalmente habilitados, respeitando os códigos de seus respectivos conselhos profissionais, podem realizar a prescrição de medicamentos." É o que diz o portal de Vigilância em Saúde de MG. Nenhum body piercer está apto a prescrever qualquer medicamento, seja ele de uso oral ou tópico. Essa prática fica restrita a médicos, enfermeiros, farmacêuticos e outros profissionais de saúde, conforme regulamentação dos seus respectivos conselhos.
Ainda temos outros problemas com pomadas, já que elas são úmidas e/ou gordurosas, o que deixa o local constantemente úmido. Além de prejudicar a cicatrização do piercing, isso pode atrair poeira e outras poluições do meio ambiente. Cada pomada tem um objetivo específico na cicatrização de feridas (como a colagenase, usada em feridas com necrose, ou o óxido de zinco, usado em urticárias associadas à incontinência urinária).
LEVINSON, Warren. Microbiologia Médica e Imunologia. 14. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.
https://www.corensc.gov.br/wp-content/uploads/2015/07/Parecer-018-2015-utiliza%C3%A7%C3%A3o-de-antiss%C3%A9pticos-em-feridas-.pdf
https://www.saudedireta.com.br/docsupload/134049915626_10_2009_10.46.46.f3edcb3b301c541c121c7786c676685d.pdf
http://vigilancia.saude.mg.gov.br/index.php/2018/06/08/qualquer-profissional-pode-prescrever-medicamentos/
https://www.saude.df.gov.br/documents/37101/0/Indica%C3%A7%C3%A3o+dos+Curativos.pdf/3453272e-d30a-dd41-c483-0753720bb61c?t=1664212831951
https://www.nebacetin.com.br/bula
https://consultaremedios.com.br/cetoconazol-creme-medley/bula?srsltid=AfmBOoqgd2a99PNjI74PFWsxJhJZRJK_osa6HvgvbpXuVZ3DTyIO9KqQ
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https://www.msdmanuals.com/pt/casa/multimedia/table/corticosteroides-usos-e-efeitos-colaterais